Pós-pandemia: como o conceito de cidade policêntrica e bairro autossuficiente pode trazer caminhos para a organização urbana em São Paulo
Repensar o desenvolvimento e a organização urbana é essencial para superar problemas recorrentes na capital paulista, como a mobilidade urbana.
Nos últimos meses, a população mundial tem se adaptado a viver em meio a uma pandemia, uma vez que as formas de interação social, de trabalho, de estudo e de lazer foram modificadas. Da mesma forma, governos, organizações, empresas e cientistas de todo o mundo trabalham para entender como será esse novo mundo pós-pandemia e em quais aspectos ele será diferente.
Nesse sentido, um dos temas que voltaram à tona neste momento é o de cidades policêntricas e bairros autossuficientes. O conceito diz respeito à organização espacial e econômica de uma cidade de modo que um morador não precise se deslocar longas distâncias, mesmo em grandes cidades, para ir ao trabalho, desfrutar de momentos de lazer e ter acesso a outros serviços, como supermercados, escolas, farmácias, academias, médicos, etc.
A proposta tem ganhado adeptos no Brasil e no mundo. Em Paris, a prefeita Anne Hidalgo incluiu, em seu programa de campanha, o projeto “Cidade de 15 minutos”, com bairros autossuficientes onde o cidadão parisiense poderia ter acesso a tudo que fosse necessário a uma distância de 15 minutos.
No Brasil, a proposta de uma cidade mais policêntrica, isto é, em que há vários núcleos habitacionais que atendam às demandas de seus moradores, não é de hoje. Ela já apareceu, por exemplo, no plano de desenvolvimento SP 2040 e nos planos diretores de São Paulo de 2002 e 2016.
Mesmo se não posta em prática em sua totalidade, essa visão para São Paulo pode trazer inúmeros benefícios, além de fazer com que os gestores olhem mais atentamente para alguns dos maiores problemas da metrópole.
Primeiramente, ao proporcionar curtos deslocamentos aos moradores, o projeto contribui para a melhoria da mobilidade urbana, evitando congestionamentos, desafogando o transporte coletivo e ainda contribuindo para práticas saudáveis e mais sustentáveis, como o deslocamento a pé ou por meio de transportes não emissores de CO², como bicicletas ou patinetes.
Em segundo lugar, o benefício seria econômico. O projeto contribui para a descentralização de renda e para trazer oportunidades de trabalho para outras comunidades mais afastadas dos centros urbanos.
Embora alguns especialistas acreditem que o modelo não possa ser implementado totalmente, por contrariar o modo de produção e ganho de capital contemporâneo, é fato que o projeto pode indicar caminhos para o planejamento urbano, principalmente em momentos como o atual, em que a aglomeração excessiva de pessoas é posta em pauta e o comércio local é fortalecido.
Além disso, bairros autossuficientes podem propiciar aos habitantes a possibilidade de viver mais ativamente em sua região, aproveitando as facilidades e serviços que seu bairro pode oferecer.